quarta-feira, 4 de março de 2009

Pela Zoorapa - 2ª Parte

Passei a planejar minha volta para a rocha, mais especificamente para Rodellar. Entrei em contato com a Janaína Xavier (Jana) e marquei minha saída do hostel para o dia 11 de setembro quando o Lucas já teria voltado de uma viagem ao Boom Festival em Portugal e, graças a Jana teríamos uma carona para Rodellar com o Joseva, escalador local.
De volta ao paraíso paguei todos os meus pecados cometidos em Barcelona (que acreditem, não foram poucos) com toda a gana do mundo consegui encadenar um 6b(6º br) no limite, ao provar um 6c(7a br) na seqüência sofri para isolar os lances.... mas não me deixei desanimar e apenas 2 semanas depois saiu o meu primeiro 7a+ ( 8a BR)a vista – um dos objetivos da viagem.
Passamos dois meses de muitas alegrias e diversão no pico, além de um reforço no time brazuca: Ricardo Shein, Sidney Shimitz e sua namorada Gizele chegaram e ao todo somávamos 7 brasileiros em Rodellar, pois além desses 6 tem a Carol que mora lá. Com o Fim do Outono veio a chuva e as chorreiras começaram a molhar, mesmo não querendo se despedir do pico fomos obrigados, pois não existe transporte público e todos os escaladores estavam vazando, temendo ficar sem uma carona fomos praticamente os últimos a sair de lá. Agora o destino era Siurana.Após minhas experiências anteriores percebi q a hospedagem era o que mais pesava no bolso e parti p Siurana decidido a não ter esse gasto, investi uma grana num bom saco de dormir e um bom casaco e fui sem sequer levar uma barraca, estava decidido a bivacar no pico.
                                 Caio e Lucas no abrigo
Siurana é mais um lugar fantástico, muitos setores e vias, embora que para alguns deles seja recomendável ter um carro é possível aproveitar bastante do local sem veículo mesmo. Após alguns dias fomos ao camping procurar trabalho e conseguimos ter hospedagem gratuita em troca de recolher o lixo (coisa que nos demandava cerca de 20 min por dia, verdadeira moleza). Apesar do frio intenso (abaixo de zero, chegando a -5 ou -6 de madrugada) não fiquei desconfortável e a escalada rendia, embora ainda não tivesse buscando vias muito duras e mantendo a idéia de melhorar minha escalada a vista, provei um 7c (9a br) e esse tive ganas de trabalhar mais. Minha namorada estava para chegar do Brasil em Barcelona e após 4 tentativas na via fui buscá-la e passei 5 dias na babilônia, mas a via não me saia da cabeça. Quando voltei aqueci em um 6a com a Cris e fui para minha via que, não sei se por causa dos dias de descanso ou pelo animo do amor me saiu na quinta tentativa, coisa que para mim era inédita, pois nunca havia feito uma via desse grau em menos de 20 (?) pegues. Uma semana mais de friaca invernal em Siurana e era momento de buscar um pico mais confortável, Lucas decidiu voltar ao Brasil, Ricardo ficou por lá mesmo, o Sid e a Giz foram descendo para o Sul parando pelo caminho e o mesmo fez a Jana, enquanto eu e Cris fomos direto para o El Chorro, um dos principais picos de escalada do inverno europeu.
Lá chegando fomos ao camping e a chuva castigava. O camping não oferece nenhuma estrutura e não nos restava muito o que fazer além de comer, namorar e jogar cartas, quando o tempo dava uma trégua buscávamos algum lugar seco para escalar. Nos primeiros dias tivemos uma má impressão do local, os setores não nos agradavam e as linhas aparentemente mais interessantes estavam molhadas. Estávamos a beira da depressão quando resolvemos ir conhecer o Maquinódomo, o setor mais famoso e distante, ficando a aproximadamente 1h de caminhada da cidade de El Chorro. Lá chegando encontramos o lugar onde queríamos estar, várias lindas linhas em negativo constante, com chorreiras alucinantes e lugares para bivacar, entre os quais o que mais chamava a atenção era uma grutinha equipada para se morar, com mesa, lugar para se cozinhar com fogo e acreditem: até um sofá! Obviamente havia gente neste último local, mas não desanimamos e planejamos ir a Málaga fazer compras e subir p ficar no Maquinódromo esperando que os ingleses que habitavam a gruta não permanecessem por lá muito tempo.
Caio e Cris na caverna em Maquinodromo
Os três dias que se seguiram foram de muita água por parte de São Pedro e concordamos que no quarto dia subiríamos logo que amanhecesse,na chuva ou não, pois acreditávamos que talvez os dois tivessem desistido de ficar lá com o mal tempo. Acordamos com os passarinhos e para nossa surpresa fazia um lindo dia de sol, subimos carregados como duas mulas, com equipo de escalada e de camping, comida e roupas e o esforço foi recompensado, ao chegar a gruta era toda nossa. Havia um fonte de água a 15min e de duas em duas semanas tínhamos que ir a Málaga para fazer compras, o resto do tempo era escalar, escalar e escalar!!!  Após um mês de El Chorro minha amada teve que partir para Cadiz onde esta cursando um mestrado mas a Jana subiu p cueva onde ficamos mais um mês, e neste momento era chegada a hora de escolher projetos fortes e tentar, tentar e tentar a muerte!!! Após encadenar nossos primeiros projetos começamos a entrar na Lourdes, uma linda via de 30m, graduada em 8a(9c br), recheada de chorreiras e em um negativo (bem negativo) constante. Um clássico, não só pela linha em si, mas também por ser o primeiro 8a da Espanha. Infelizmente, uma vez mais, o clima não colaborou e após dias de chuva torrencial a via estava completamente molhada... o psicológico ficou abalado e era difícil de se motivar, decidimos que nossa temporada no El Chorro estava terminada.
Agora descanso um pouco em Cadiz, junto do meu amor e no carnaval vamos a pico chamado San Bartolo, famoso por seus boulders em arenito, de lá creio que retorno para Siurana e Rodellar, mas como dizem: o futuro a Deus pertence. Espero que ele tenha reservado um futuro de muito climb p mim rsrsrsrs
Abaixo seguem informações que considero úteis para aqueles que queiram se aventurar por essas bandas:
Arco: Lindo vale, lotado de vias e setores, porém o acesso a estes sem veículo é bastante limitado. Quanto a lugar para ficar creio que é possível bivaquear em alguns setores, porém a prática não é comum e creio que não é vista com bons olhos pelos escaladores locais, acredito que o melhor seja buscar o camping ou pousadas. A melhor temporada creio que seja entre maio e inicio de outubro.
  Arco - Pueblo
Céüse: Falésia fantástica com 3km de rocha ininterrupta, é possível chegar lá sem carro a partir de Gap pedindo carona, coisa bastante comum e não muito difícil de se conseguir. O que desanima é a trilha bastante puxada, mas só é necessário subir com o equipo um vez, praticamente todo mundo deixa a mochila na base da falésia. É possível bivaquear lá em cima, mas não é permitido nem recomendável. Os preços do camping são bastante acessíveis (pergunte pelo trailler!!!).
 Ceüse - La Cascade
Rodellar: Nas palavras do meu amigo Juan: “Rodellar és demasiado perfecto...” Definitivamente o melhor pico que conheci. O acesso é um pouco complicado sem carro, deve-se ir até Barbastro e de lá tentar uma carona para não ter que caminhar 18km. A estrada é pouco movimentada pois termina em Rodellar. Para ficar recomendo o Kalandraka, refúgio que cobra 6,50eu a diária e oferece quartos comunitários para 4 ou 8 pessoas, existem também dois campings com bons serviços, sendo que o El Puente é um pouco melhor, porém recomendado para os que estão de carro. É possível bivacar ou realizar camping selvagem mas cuidado para não ser pego pela guarda civil, que segundo reza a lenda toma todo o equipo de camping do cidadão (saco de dormir principalmente). A melhor temporada é setembro e outubro, temperatura amena e muitas frutinhas p colher nos dias de descanso.
 Amoras em época de colheita
Siurana: Pico lindo que pode ser acessado a partir de Barcelona com um trem para Reus e na seqüência um ônibus para Cornudellia. De lá pode caminhar 7km pela estrada até chegar em Siurana, aventurar-se a encontrar a trilha que corta bastante caminho ou tentar uma carona. Para ficar existe um refúgio na cidade e o camping de Siurana, onde os donos são bastante amistosos e tem um carinho especial pelos brasileiros. Também é possível bivacar por lá, procure com cuidado que encontrará bons locais, mas muito cuidado se for fazer fogo, os locais não aprovam a realização de fogueiras devido às características da vegetação local. Se puder tente visitar MontSant, setor de conglomerado de buracos com vias verticais e negativas que realmente vale a pena. A melhor época para se visitar é a primavera e o outono pois no verão é muito quente e no inverno muito frio.
 
                                                                        Siuranella vista das Ventanas
El Chorro: O pico para se ir no inverno. Dizem que normalmente não chove muito e chega a fazer calor (coisa que ocorreu 3 ou 4 dias dos 2 meses que passei lá, mas parece que este ano foi bastante atípico). O acesso é direto por trem, de Málaga a El Chorro. Existem 2 ou 3 refúgios cujos preços giram em torno de 9eu e um camping que além de caro não oferece nada além de banheiro, realmente não é um lugar recomendável. O mais interessante do pico (além da escalada é claro) é que o bivac e o camping selvagem são totalmente tolerados e normais. Existem várias cuevas (grutas) preparadas para se habitar (com as paredes emboçadas e semi-mobiliadas), recomenda-se chegar no início de dezembro que não deverá haver dificuldades de conseguir uma destas. Caso chegue tarde não faltam lugares para realização do camping selvagem, o mais comum é ao redor da igrejinha da cidade. Em breve devo enviar mais relatos do climb de San Bartolo, até lá.
                                                          El Chorro - Maquinodromo
Por Caio Granola

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