quarta-feira, 10 de setembro de 2014

"Place of Happiness" em um dia.

Um dia antes, na frequência máxima!!!
Foto: Fernando Lessa 

Desde que me conheço por escalador, escalar grandes montanhas é o presente máximo que se pode ter desta vida, entrar em outro mundo e voltar, viver experiências fora do nosso plano e voltar é algo realmente especial. Escalar uma montanha como esta em um dia foi o maior prêmio que poderíamos ter depois de tanto acreditar e respeitar o tempo...

Este era um projeto meu e do Biê em particular, desde que vimos pela primeira vez as fotos da parede já era óbvio que um dia escalaríamos esta montanha em um dia, ficamos fissurados na época com a idéia e isso nunca saiu de nossas cabeças. O tempo passou e depois de 3 anos concretizamos uma ascenção da via em 3 dias, eu , Serginho e Biê. Após o sucesso de nossa escalada estava ainda mais claro que poderíamos fazer a via em 1 dia. Mais umas semanas se passaram e começamos os planejamentos... BiÊ acabou ficando ocupado com uma nova temporada dos "Montanhistas", Serginho nesta hora muito motivado entrou de cabeça no plano...

Respeitando todas as pessoas, escaladas e tentativas que foram feitas na "Place", fiz um plano em uma folha de papel aonde dividia a via em "horas escaladas" por "cordadas" para prever a chegada ao cume, parecia um plano audacioso bater o recorde do "quase cume" dos atletas profissionais da Adidas que se "perderam" antes da "P17", 5 metros antes de uma chapa e mais 2 metros para a parada e então mais uma cordada para o fim da via... No vídeo a escalada se mostrava bem difícil em um dia...

O plano inicial fazia uma previsão de sairmos do chão as 04:00 e chegarmos ao cume as 17:00, plano que parecia ótimo em comparação a outras tentativas. Naturalmente, sem pressão alguma a escalada fluiu e falando mais alto que nossas expectativas fomos presenteados com a "Primeira ascenção em um dia" da via com apenas 10 horas de escalada, pontualmente de 04:40 à 14:40...

Com o Serginho a escalada se tornou muito tranquila, entramos no ritmo rápido e fizemos as primeiras 6 cordadas "a françesa", direto para a base dos diedros (+-2 horas) com ele guiando. Passei e fiz o primeiro diedro de 7o. Nessa hora rolou um visual surreal do vale, um teto de nuvens baixas e faixas vermelhas de raios de sol com uma leve garroa no ar... Ele veio guiou o primeiro 8c (7b+) do diedro e eu guiei o segundo de 9a (7c) que tem seu crux bem marcado no diedro abaolado. Neste momento (+- 09:00) estávamos nos sentindo tão bem que resolvemos abandonar a mochila em um buraco abaixo da parada e subimos apenas com uma garrafinha de água cada, 2 maças e uma barra de "diamante negro". Seguimos mais duas cordadas assim, ele guiou o próximo 8c e eu o negativo 9a que deu um certo trabalho de resistência com uma certa sensação de câimbra nos braços a todo momento de "blocância", rs... Chegamos na P11 aonde rola um ótimo ponto para "portaledge" antes do meio dia, totalmente adiantado em relação ao plano inicial e tínhamos um tempo para descanso que foi ignorado pela vontade indomável de subir a pedra. Continuamos como loucos em um ritmo bom porém bem controlado, com segurança ( clipando todas as chapas, diferente da primeira parte à francesa aonde clipamos apenas as paradas...) fomos passando parada por parada até voltar ao estilo "à francesa" nas últimas 3 cordadas e finalizando com uma certa "euforia" oque foi por todo o dia uma longa e meditativa escalada...

Foi mágico, chegar no cume mais uma vez nos trouxe uma sensação de paz, alegria, missão cumprida e gratidão por tudo, horas de empenho e determinação, paciência. Ficamos quase uma hora "viajando", curtindo o cume e observando outras vias para se abrir (Projeto Travessia História sem fim para 2015) e começamos a descer às 15:30, chegando em terra às 19:30... Incrível...

Dicas:
_ Duas Cordas de 70 podem diminuir número de rapel em cordadas variadas como da p13 para p11 e outros...
_Particularmente prefiro o rapel pelos diedros ao invés de rapelar direto para o grande platô das árvores ao lado.
_ Para a cordada de 8c do diedro melhor usar o nut 00 ao invés de microfriends na parte "expo", não caímos, então cuidado com o teste.
_ Para a cordada de 9a do diedro usar .75 no lugar da agarra de mão e entrar no crux aceitando o abaolado do diedro e movendo o pé esquerdo alto, ganha altura, entra no diedro e coloca um número 3.
_ Para a cordada de 9a do negativo, após o negativo dar a volta pela direita e pegar um diedro, voltando para a esquerda depois para acessar a chapa.      
_ Para o final da via. P17 seguir reto na rampa que não tem nenhuma chapa, passar os bicos e seguir reto no vertical, logo aparece uma chapa e a parada.

Agradeço aos que sempre me apoiam, minha família, meus amigos, Edimilson Duarte por nossa estadia em seu refúgio e ao Serginho que patrocinou a gasolina da viagem.

Fica guardada minha eterna felicidade em poder concretizar da maneira mais simples o que antes era para nós um dos mais fatos complexos... Vlw Serginho e Biê!!!

...e os trabalhos não param...

Próximo post: Escalada em Livre na Cachoeira do Tabuleiro e Segunda Ascenção da via "Os Intocáveis" na Serra do Cipó.

Bons Ventos e Boas escaladas!