segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Diário de um escalador #2


Primeiro evento em Cocalzinho, paraíso dos boulders no Brasil. Muita gente de todos os lugares do país interagindo amigavelmente. Todos muito motivados para escalar os diversos blocos compostos pelo tipo de rocha conhecido como quartzito. Pedrinha para todos os gostos e estilos. Apesar de dispor de pouco tempo a organização foi nota 10, conseguindo unir todos que participaram do evento em um único lugar onde ocorreu muito intercâmbio de experiências e muitas amizades foram consolidadas, além, é claro, de muita diversão.

Foram 5 dias destinados a escalar os intermináveis blocos de pedras conhecidos como boulder, onde o objetivo do escalador é alcançar o topo pelas agarras mais difíceis possível. Muitos escaladores fortes nessa modalidade estiveram presentes, com isso muitas linhas difíceis foram repetidas e novas estabilizadas.

Além do evento, descobri lugares e pessoas que auxiliaram muito a consolidar uma visão mais abrangente sobre a relação que temos, e devemos ter, de nós mesmos e de nossas ações para com o planeta. E como somos desatentos e conformados com aquilo que nos é apresentado pela sociedade atual sem sequer questionar ou se importar se está de acordo com a sustentabilidade e harmonia que o mundo precisa. As vezes damos muita importância aquilo que nos é apresentado como uma solução sem nem ao menos indagar, mas não damos tanta atenção ao quanto a simplicidade pode resolver as coisas aparentemente mais complexas. Em uma breve visita ao IPEC (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado) pude perceber o quanto é importante utilizarmos a inteligência e a criatividade em prol não só da nossa saúde, mas principalmente a do planeta, sem que isso impeça de termos conforto. São tantas coisas básicas e simples que impressionam qualquer um. A natureza por si só já nos oferece tudo que precisamos, sem que seja necessário destruir, degradar, explorar, poluir etc.

Na companhia de meus amigos, ainda visitamos lugares incríveis como o Buraco das Araras e Terra Ronca, ambos localizados em Goiás. Lugares realmente especiais que serve de abrigo para pessoas e seres igualmente especiais, onde mais uma vez a simplicidade demonstrou estar diretamente ligada à felicidade.

No Buraco das Araras pude provar o projeto que está sendo aberto pelo escalador Pedro Raphael (vulgo Mad Max do Cerrado). Uma super linha de mais de 40 metros que atravessa um negativão quase teto por uma movimentação linda, mas ainda não está terminada porque não há quem ajude frequentemente na conclusão da abertura. Uma pena!

Em Terra Ronca foi muito difícil de chegar, no total são 400km de Brasília sendo que uns 50km de estrada de terra ruim. Então ficou claro que só vai quem quer muito ir. O lugar é realmente muito legal, apesar de ser um pouco remoto. A principal atração são duas enormes cavernas compostas de rocha calcária e um rio que passa dentro delas. O parque é protegido e quase todo tipo de atividade é proibido, mas ainda sim vemos muitos vestígios de pessoas não tão conscientes que deixam lixo por toda parte.

Ainda minutos antes de voltar ao Rio, recebemos uma ligação do escalador Gabriel Ávila de Brasília com a notícia de que tinha conseguido concluir a terceira ascensão da via "Central do Brasil" cotada em 8b+ (fr) ou 10c (br). Localizada no Morro do Belchior, Estado de Goiás, a via teve primeira ascensão e primeira repetição respectivamente pelos Brasiliense Pedro Raphael e Rafael Passos, tendo sido projeto cotado em possível 8c (fr) ou 11a (br) e que agora, com mais essa ascensão passa a confirmar a cotação atual.

Como não levamos nenhuma máquina fotográfica nem algo do tipo, fico devendo imagens dessa trip. Com a certeza de que está tudo devidamente registrado em uma plataforma muito mais avançada e sutil, fico com as melhores impressões de tudo e todos que pelo caminho cruzei.

Parabéns aos organizadores e patrocinadores do Encontro Rockocal 2010. E parabéns ao escalador Gabriel Ávila por mais essa conquista!

Abraço a todos e boas escaladas, sempre!


Por Bernardo Biê