quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Eurotrip 2011/2012

Como dizia no último “post”, voltei para sentir na pele e ter certeza que temos muito mais que imaginamos. Nossa escalada é muito mais que incrível... Temos técnica e psicológico que algumas escolas jamais poderão ensinar... O número de escolas e estilos, beleza e poder... Escalada no Brasil é “hard”!!!! Sabia há muito tempo que não há como comparar coisas como estar em casa e desfrutar de todas as riquezas que temos (nossos alimentos, nossos locais sagrados...) Sabia também que sentiria uma falta muito grande do carinho e amor que tenho em casa... Por outro lado acho também que somos habitantes do mundo, podemos viver em qualquer lugar, mas simplesmente não há como mudar coisas assim... Nosso habitat natural sempre será um só...















Precisava viver isso mais uma vez, provar realmente oque é estar sozinho para saber o quanto me transformaria, dar tempo ao tempo... No final de tudo, tudo mudou e o “erro” é “acerto”... E os momentos não voltam, mas fica no fundo um sentimento de que um dia as coisas serão como antes, conexões que nunca se perdem...












Em 2008, foram muitos aprendizados... Escalei muita coisa que tinha como “sonho”, tinha ficado o gosto na boca por apenas provar e não encadenar. Dessa vez quando cheguei, cheguei meio deslocado por ter saído do Brasil na “correria”. Tinha ficado o começo do ano todo focado com a minha graduação na universidade e logo depois a conquista na pedra do sino. Na seqüência já era hora de voar para Espanha...




















Rodellar......................................cheguei totalmente sem chão. Os primeiros dias foram bem difíceis e um mês passou voando. Nesse período não encadenei nada e era como aprender a escalar novamente. Tinha até feito algumas vias, mas nada significante. Logo com o tempo fui me adaptando mas com a vontade que estava logo machuquei o joelho e tive que dar um tempo, fui procurar outras coisas para fazer. Outra grande arte dentro da escalada é saber não se lesionar em uma viagem como esta e isto ainda estou aprendendo. Sempre escalando e procurando o limite, fica muito tênue a linha entre a lesão e a evolução.






Rodellar foi apenas uma adaptação para oque estava por vir, fiquei escalando com tranqüilidade sem nenhuma gana em resolver as vias duras; sabia que não era tão fácil assim desde 2008 e então resolvi fluir. Uma escalada totalmente diferente da brasileira exige muita força de pinça nas chorreiras, resistência em negativo e muita técnica-posicionamento. Fiquei la por dois meses escalando com o time “Brazuca” que reside por lá. Foi muito bom estar com a galera, me sentia em casa. Provei de tudo por la, 8ª, 8ª+ ,alguns 8bs e um 8c (fr.)... Só encadenei até 8b e o 8c (11ªbr) parecia muito distante... muito mesmo!!! Cheguei a pensar que a “transamazônica sem fim” poderia ser 8b+ (10c br). Fica difícil falar assim, um projeto em casa tentado por tanto tempo... Só esperando as próximas ascensões para confirmar a dificuldade...



Pude desfrutar de todos os tipos de vias nos mais variados setores... “Picineta”, “Ventanas”, “Surgência”, "Fantasma"... Vários outros ficaram na memória... Rodellar é a Disneylândia do Climb...











Miguel Catita tentando seu projeto: BudaMadre 8c+?




Mallorca...........................................rolou a coincidência, ou seria destino, conexão, era meu aniversário e ao mesmo tempo era temporada no paraíso do Psicobloc...
Após a experiência com os amigos no Brasil fiquei mais ainda fissurado em conhecer esse lugar. Foi incrível o aprendizado que tive em Arraial do cabo e Paraíso do Talhado. Fico sem palavras para descrever tamanho aprendizado... Aprendi muito sobre altura, técnica, leveza e o mais importante, como cair. Chegando em Mallorca foi praticamente fácil escalar depois de tudo que tinha vivido no Brasil, mas precisava de tempo para entender melhor o estilo e características das vias. Logo chegando fiquei impressionado com o tamanho da ilha e fui direto pra costa sul aonde se localiza os melhores “Cliffs” para o psicobloc. Calla Sanau, Porto Colom, Calla Barques, Porto Cristo e outros.



















Fica em destaque Calla Barques pelo estilo Hippie e facilidade de escalar em quatro covas diferentes, uma para cada nível de escalada.




























Porto Colom por sua variante aonde sua primeira parte é baixa e facilita a escalada para iniciantes, e sua segunda parte exige outro nível para os 18 metros de parede... Lá praticamente foi aonde me “soltei” para escalada de altura em Mallorca...











Logo fui para Porto Cristo, estava muito fissurado para conhecer os clássicos que tinha em mente... “Loskot and Two Smoking Barrels, Ejector Seat, All the cats are Black in the night, If u keep the face in sunshine u Will not see the shadow” foram alguns dos projetos que tinha como meta de provar e talvez encadenar. Linhas incríveis em um desplome de 20 metros com agarras perfeitas no melhor calcário da Espanha








Foi muito especial estar “jogado” por lá, vivenciando aquele lugar mágico... A “cova Del diablo” é muito impressionante e tive a oportunidade de escalar com pessoas incríveis. Compartilhar a escalada em solo (mesmo em águas profundas) é algo bem diferente...
Ficou na memória poder escalar com “Sharma” nessa parede, algo que não se escolhe...simplesmente acontece. Estava lá, quando vi uma galera chegando. No meio deles pude identificar o “Professor” do Sharma no filme “kinglines”, Andy e na seqüência o Sharma... Fiquei “de cara” !! Não podia acreditar que iria viver na pele o “kinglines” !!!! Fiquei “pirando” no momento, a galera chegando, visualizando a falésia... Tivemos a oportunidade de ver o grupo escalando um dia antes em Calla Barques, mas foi algo muito rápido.
Sharma trazia amigos da Califórnia, eram uns seis no total. Começaram escalando as mais fáceis e clássicas. Sharma escalava e desescalava algumas linhas ate 7c (fr) para aquecer e parava no meio de todos os “crux” para ensinar aos amigos os movimentos... Surreal... Depois veio escalando sem magnésio todas as linhas (usava apenas um pouco de magnésio líquido na saída). Foi incrível ver ele escalando pessoalmente, a técnica, a força e o mais forte dele; a naturalidade ao escalar...fluidez...
Eu tentava a “two smokings” e nesse momento me secava, esperando para escalar e ao mesmo tempo conversando com a galera. Existe um platô onde os escaladores ficam esperando e se secando para entrar nas linhas, nesse momento Sharma começa escalar a via e quando dá o bote, um grito. Eu e Andy nos olhamos, depois no segundo crux acima do bote, outro porém mais leve. Andy vira pra mim e diz: “You are Fu#$%” . Fiquei pensando, “é realmente estou f!#$%¨”. Kkkkkkkkkkk.....
A via se caracteriza por uma parte fácil em torno de 6º (fr.) e depois o crux do bote que é entorno de 7b+/c de bouder e depois outra seqüência curta que deve ser outro 7b+ (fr.). No total a via é um 8ª+ de 18 metros. Super difícil!! Tentei o bote umas 20 vezes ou mais... Pensando que não queria perder a oportunidade de fazer a via caso saísse o bote, rapelei para ver as agarras do final. Saindo do bote, vem um batente plano, uma pinça alta (chorrerinha), uma pinça gorda no meio e uma movimentação de pés para dar uma “chamada” alta- estática em um bidedo e enfim um agarrão que caracteriza o final da dificuldade... Realmente por um tempo cheguei a pensar que não faria a via mas minha vontade era tanta que resolvi continuar tentando...Havia outro “problema”, como Mallorca é uma ilha, tinha comprado o vôo (ida e volta) e já como não tinha feito a via no primeiro prazo comprei outra volta para uma semana mais...Ficava a vontade de mandar a via com o compromisso de fazer em uma semana... A temporada acaba...
Era hora de “conectar” e esperar as coisas acontecerem...
Como aprendi com a vida, não gosto de ficar escalando projetos por muito tempo, porque alem de perder a motivação , perde-se força e tempo. É importante entender os “momentos”. Resolvi então ir para outro lugar pra tentar ganhar a força que me faltava e então voltar para a via em uma semana.
Fui para Calla Barques para fazer umas vias de bouder para ganhar a força e lá é o melhor lugar para isso. Fiquei escalando de tudo um pouco...
Depois quando já estava no meio da semana fui sentindo a motivação voltar, a força... Era hora de tentar pela ultima vez.
Saí logo pela manha desprezando as caronas que sairiam ao meio dia para a cova. Fui praticamente sozinho e meditando sobre a via. Chegando à cidade fui à internet e la tive uma mensagem muito importante do “Lipe”... Mas essa é outra “História”... É incrível como certas palavras simples fazem incrível importância para certos acontecimentos. Coisas bobas ditas em outros momentos são apenas palavras sem importância alguma...
Saí super energizado da minha conversa com ele e fui direto pra cova, chegando la quase ninguém...Fiquei pensando, escalo ou não escalo...
É norma de segurança não escalar psicobloc sozinho, pois caso aconteça algo não há ninguém para ajudar você a sair da água ou coisa desse tipo. Havia apenas duas pessoas que estavam saindo da água e decidi tentar mesmo assim...estava muito motivado! La de cima se ouvida os gritos de “kmom” da galera... Fui subindo e como sempre nos botes foi tudo muito rápido, quase não se vê oque acontece...
Quando vi estava no agarrão do bote de mãos juntas... Um grito de força misturado com raiva...Um descanso breve e segui a seqüência final “a muerteeeee”!!!!!
Foi surrealll quando fui saindo do crux final, alcançando os agarrões... Muita felicidade!!! Poder concretizar esse sonho, viver os clássicos do Rockclimb... Muito presente de Deus...Depois de tanto trabalho...Vem o presente...
Ficou marcado o quanto a ilha carrega a energia de superação quando se esta à frente dos “Cliffs”... Locais sagrados de imensa beleza e paz...Quanto é especial aquele lugar...

Agora voltei para Siurana para pegar o final do inverno e tentar mais uma vez algum projeto. Voltei tentando a 2x30 e ainda se mostra bem difícil. Muito “bloquera”. Tenho que treinar mais ou ate mesmo procurar outro caminho... Outra conexão... Outra via...
As condições climáticas estão perfeitas, agora faz muito frio. A temperatura fica entre os -1 graus até 7 pelo dia e a noite chega à -5/-10 fácil. Fica difícil encontrar motivação e força para escalar. Os dias de ócio são uma tortura quando não se tem nada para fazer, ficando a sensação de estar em uma “passagem”...algo fora do tempo natural.
Depois de muito tempo apenas escalando procuro fazer poucos dias no esquema convencional (2-1) e acabo descansando mais que escalando. Quando procuro “volume” escalo sem parâmetros de dias e números de entradas. Acho que cada um tem sua configuração e adaptação a esquemas e freqüências de escaladas. Outro esquema seria também o (1-1), procurando o limite em todos os dias que escalo. Vou escalar em vias por todo o dia (projetos), dou cerca de três entradas e depois pela noite treino no “rocodromo” de cornudella.
Espero ficar por aqui um tempo tentando umas vias, treinando e meditando sobre tudo que aconteceu e que anda acontecendo... Depois espero visitar amigos na França e então uma visita ao Brasil para tentar alguns projetos de parede.
Minha rotina todo esse tempo estava voltada para a escalada e para expandir meus conhecimentos. Como da primeira vez, depois de certo tempo sinto falta de muita coisa... Sinto falta de um trabalho, uma casa, uma vida normal... Sentir-se completo... “Pelo caminho do meio” como já dizia um mestre...
Para mim mais uma vez ficou a confirmação de que experiência e teste são de extrema importância... Há que tentar... Cada um com o seu resultado. Não existe “erro”, somente existe o “acerto”.
É necessário experimentar, provar, viajar... Se tornar completo fazendo parte do que nos rodeia. Estar em comunhão e harmonia com nosso habitat natural... Entender, poder enxergar o quanto tudo é perfeito e está tão perto...






...mesmo assim, ainda busco o desconhecido...........................









Fica para o próximos "post" a sequência da viagem ( Siurana, El Chorro e Margalef ). Tenho muito material para compartilhar, videos, fotos e gostaria de editar tudo da melhor maneira possível... Desejo a todos o melhor que possa existir nesse mundo... Grande abraço e beijos a todos!!!!!! Boas escaladas e bons ventosssss!!!!!!!!!!!



Lucas

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