terça-feira, 15 de janeiro de 2013

The Endless Winter - Eurotrip


O "Pueblo" mais fanático do mundo...é perfeito!
 Tinha ficado na cabeça voltar algum dia e com tantas pedras, história, fanatismo, seria impossível não voltar. Agora começa a 3a Eurotrip que nasce da proposta em buscar as condições perfeitas seguindo a temporada aonde quer que ela esteja. Buscando também a "evolução" apenas em viver naturalmente dentro do universo da escalada, isto é, aprendendo com os grandes profissionais do assunto a arte de escalar/equipar vias esportivas. Fato que os acompanha a duas décadas a mais que nós brasileiros (ex: via/ascensão http://en.wikipedia.org/wiki/Action_Directe_(climb) ). Por volta de 1970 na Europa e finais dos anos 80 no Brasil. 

As condições climáticas perfeitas somadas com a qualidade da rocha e história de "pedra" fazem toda a diferença...



Separados por um longo "charco", América do sul e Europa se mostram muito mais distantes quando alguns fatores são botados a prova. Adaptação, cultura/alimentação, cotidiano, clima, sem falar também que é sempre bem difícil organizar todas as coisas para poder vir de corpo e alma para poder escalar com todas as forças e focado no "presente”...É difícil se "dar bem" e se acostumar com todas as mudanças. Como diziam, o melhor escalador é aquele que melhor se adapta.
 
Deixar tudo para trás em busca do "sonho" é muito mais que "viajar" para escalar, é dar um passo no vazio...
Dessa vez não foi diferente. Foram meses programando e esperando o momento de vir, esperando o "chamado" para comprar a passagem e começar a fechar todas as coisas no Brasil para então embarcar. Tive um "contratempo" de uma lesão, mas nada que tirasse a vontade de vir tentar por mais uma temporada os incríveis "projetos" da escola de esportiva mais importante do mundo. Sair do Brasil por um lado foi bem difícil, deixar os amigos, família, a cidade natal que me acolheu melhor que nunca... Por outro lado foi um alívio, deixar coisas que não me fazem bem como sistemas sociais falidos, companheiros de jornada "presos" no tempo, competições inúteis que não levam a lugar nenhum... 


Chegar e desembarcar foi aquela paz e alegria!!! Depois da entrada fui recepcionado pelo Schen que está aqui a alguns anos, amigo e companheiro de escalada está sempre motivado!! Foi perfeito, viemos direto para Siurana aonde o tempo clássico mostrava o frio e baixa umidade de uma temporada de dar gosto. O chão congelado e um sol de inverno faziam-me sentir o quanto é perfeito o clima de escalada que "derrama" das montanhas da Catalunia... É muito clássico!!!

Cornudella de Montsant.

Agora especial mesmo foi perceber o quanto me sinto em casa aqui, a simplicidade do “pueblo, os amigos compartilhando o mesmo fanatismo, as casas, o clima de escalada, os locais de pura paz, o infinito visual de pedras que rodeia cornudella de montsant”...  Chegando também tive uma surpresa enorme, na página do novo guia ilustrando o setor surreal da "la rambla" uma foto de alguém que passou por aqui na temporada passada...foram muitas "remadas"!!!Vlw Dani e Pete!!!
  

Capa do Guia.

"Guia de Tarragona, Siurana, El pati, El mon de sofia 8b+ - Foto: Pete O'donovan
... Retrato de uma história..."

Logo as primeiras semanas seguiram tranquilas, gastamos a primeira nos organizando em um "piso" para poder escalar melhor, descansar e etc. Faz uma grande diferença quando se compara em ficar em uma "furgo". As manhãs agora são um prazer, podendo fazer um café tranquilo em casa sem a necessidade de ir para algum lugar para se aquecer ou até se sentir acolhido perante o frio. Estar em uma casa faz com que se economize energia para poder escalar bem e ficar longas horas exposto as condições extremas de inverno.

Time BR.
 
Nos dias de extremo frio o murinho salva...
Sobre escalada passei o primeiro mês me adaptando e saindo de uma lesão graças a grande paciência e a apiterapia (http://www.apiterapia.com/introduccion.htm). A paciência é o fator mais importante para quem deseja ultrapassar o "limite particular estabelecido". Além dos trabalhos cotidianos (Fisioterapia, massagens, contraste, "finger terapeutico" , muro...) e escaladas fáceis para voltar a ativa, começamos equipar um provável 9a/+ fr (11c/12a) no setor "can piqui pugui" que assim foi graduado por Dani Andrada. Foi incrível poder ver os movimentos que existiam em mente serem solucionados com certa dificuldade. É realmente difícil e ainda mais sendo bem "bouderistica" a linha, aliás todas as vias localizadas nesse setor tem essa característica...

Can piqui pugui
Provei a via e muitos movimentos nem pude executar e em outros pontos da via nem conseguia parar em pé. Sei que isso é normal quando provamos coisas muito além dos nossos limites; mas com o tempo tudo melhora e a cabeça abre, ao final as "passadas" parecem estar cada vez mais perto... Projeto é assim. 
Um começo "meio factível" de (7c+/8afr? de via) de 3 costuras, depois um boulder de 4 movimentos que imagino ser mais que v8/9 (7c)? e clipa uma costura, entra em outro boulder de 1 movimento que deve ser mais que v10/11(7c+/8a)? ...Um dinâmico daqueles saindo de 2 buracos e lançando a outro bem longe de "esquerda"... Clipa outra e entra em mais um boulder que pode ser v9?(parte que é bem difícil de apenas se manter na pedra e buscar outra agarra) e depois um final de resistência "factível" de 4 costuras (7cfr? de via) com "um passo" dinâmico e técnico no final da "placa"; clipa a cadena. Claro que para mim fica bem difícil executar as "sessões" mesmo separadas, mas tenho certeza que muitos escaladores de ponta conseguem enxergar de outra forma toda essa sequência que chega parecer impossível no primeiro "pega"...
Foi um presente encontrar essa linha, eu e Magi começamos na temporada de 2011/12, equipando e visualizando os pontos de proteção, mas não havíamos finalizado pois existia uma certa dúvida quando a facticidade da via. Foram necessários meses e investidas para então liberarmos a linha que agora pode ser a mais difícil de um dos setores mais clássicos de Siurana.
Enquanto isso encadenamos algumas vias do setor, alguns 7s, um 7c+ novo do Dani, um 8a+ clássico chamado "Gigololo" aberto nos anos 90 que é muito boa!! Mesmo contando com agarras cavadas a via é um clássico!!! Schen a "punto" de encadenar a "Renegoide" 8b+ , agora caindo em cima... "Tá quaseee..." E nas próximas semanas continuamos pelo setor provando outros clássicos do rock.




Parede Paraíso Perdido - Arboli
 
P3 Clássico - foto:Luis Cláudio "Pita".


Além de tudo estamos equipando um setor "novo" que apelido de "Pared Paraíso Perdido" (P3) em homenagem a parede que me mostrou, enchendo os olhos, o futuro que me esperava dentro da escalada. Foram incríveis as primeiras escaladas na mais prazerosa parede da Floresta da tijuca-RJ.
Não existe muita semelhança com a escalada mas com certeza existe uma "paz" em comum...
 



"Paraíso Perdido - Arboli"
O setor em Arbolí na verdade já estava aberto (trilha), mas devido ao grande trabalho (limpeza e sika para reforço) foi esquecido por muitos anos e inexplorado em sua maior extensão. Um verdadeiro Paraíso Perdido.

Setor visto do "can piqui pugui".
Magi visualizando as linhas.
Lu no meio da 1a via "Haga lo que quieras".





Depois de alguns dias começamos a frequenta-lo e junto com Pita e Lu estamos abrindo as primeiras "kinglines" do setor. Um "desplome" de uns 30o graus constante com uns 35 metros, no total de 16 chapas de pura resitência...
Parede virgem... linda!!!





Abrir vias é incrível mas ao mesmo momento é um delicado assunto nos dias de hoje, pois até onde podemos chegar/enxergar? Utilizar sika mesmo para proteger uma via, equipar setores que são "quase lisos" ao nosso ponto de vista vale realmente a pena??? Depois de vivenciar alguns momentos no Brasil e agora na Espanha ainda acho que o mais importante é escalar de fato, adquirir experiência, carga horária de "vôo", aumentar a biblioteca de movimentos e aguçar a visão... 

 Em alguns dias terminamos a 1a via no "p3" e com certeza estarei preparando um post sobre a conquista e escalada. "HAGA LO QUE QUIERAS" 8b+/c???... 

Boas escaladas e boas ondas... ;)