sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A busca fanática...


Vem chegando o verão, vem chegando o inverno. Em poucos dias chega a tão esperada "temporada" de escalada em rocha. No hemisfério norte impacientemente as pessoas esperam desde o inverno passado boas temperaturas para provar seus incríveis projetos. Aqui no hemisfério sul não é diferente, neste exato momento uma multidão de pessoas migra para o extremo sul do continente a fim de encontrar "janelas" para suas exigentes "investidas".

...A ansiedade e euforia tomam conta...

É nesse período que a natureza colabora com a escalada, eu diria, é nesse período que ela permite que nós humanos sejamos capazes de vivenciar momentos únicos em ambientes extremos de montanha, seja atingindo um cume no desejável Fitz Roy ou até mesmo clipando um final de "batalha" que parece não ter fim nas paredes perfeitas da Catalunia. Estes locais carregam uma energia incrível de superação, locais de verdadeiras "batalhas" pessoais aonde todo o "cosmo" parece desfrutar, brincando com a infantilidade humana em querer controlar toda a “natureza”. Como nós relacionamos e como vivenciamos estes "momentos" ou "janelas" de bons ventos e oportunidades faz toda a diferença, a energia com que se "entra" em campo é quase tudo.

...Olhar para a parede muitas vezes é mais importante que olhar para a trilha, "nem é tão alto assim"... 

Cabeça erguida e confiança no verdadeiro "guia" traz a calma e paz necessária para poder junto com a natureza fazer a tão especial "mágica" de conquistar “cumes” de consciência. E o mais engrandecedor é perceber enquanto tudo acontece, que somos apenas míseros espectadores. Tudo acontece muito rápido...

Desde que voltei da Europa (2a EuroTrip) vinha depositando toda a energia em encontrar algum "caminho" para escalada seguindo a linha em divulgar e explorar novas escaladas pelo País. O blog passou a ser uma grande ferramenta atingindo pessoas de vários países, divulgando a escalada local. O Biê se concentrava no projeto “MONTANHISTAS” para o canal Off desde o começo do ano (2012) em companhia do Hugo ( Projeto este que resulta no primeiro programa para grande massa do país - TV ) atingindo o público com imagens surreais das escaladas e vôos nas montanhas do estado do Rio de Janeiro. Nesse período acabei direcionado a passar um tempo com minha família em busca de trabalho para novamente economizar grana para futuros projetos e acabei morando um tempo em Brasília, claro que também aprendendo um pouco mais sobre a arte de bouder com quem sabe do assunto...(www.pedroraphaelclimb.blogspot.com 

Por fim alguns "vislumbres" sobre conquistas de altas paredes no Brasil somado com a idéia de não acreditar no “sistema” faz recomeçar outra “espiral” em direção à verdadeira fonte de alimento, o"climb". Os caminhos vão seguindo, se cruzam e voltam ao mesmo ponto. A "cordada" se separa mais uma vez em busca de mais conhecimento; Biê segue para o começo de uma nova temporada de “MONTANHISTAS” na Argentina e sigo então para mais uma temporada nos paredões de continuidade da Espanha. Quem sabe estamos indo em direção aos reais valores de cada um e que ao fim se completarão. Tudo está perfeito, a temporada, a temperatura, as datas, as duplas, os lugares, as vias... 

Desejo FORÇA a todos nós montanhistas que buscando nossos “reflexos” em cada “passada” e nossas “verdades” em cada “cume”, encontramos a pura essência de nossas vidas...  

“Tocaaa”...

......http://www.youtube.com/watch?v=HMIwScW0Fdc


 

domingo, 11 de novembro de 2012

Repetição da via "Canino Cascudo" na Pedra Hime


Localizada no Parque Estadual da Pedra Branca, em Jacarepaguá, a Pedra Hime se destaca ao longe devido a sua verticalidade, sendo a principal característica da face que é situada a via "Canino Cascudo".  A formação da Pedra Hime lembra um pouco o Pão de Açúcar, algumas características da via remetem as escaladas do Totem, principalmente pela inclinação que em alguns pontos chegam a atingir ângulos negativos.

Bernardo Biê na primeira enfiada da via "Canino Cascudo" - foto: Felipe Dallorto.

Até onde se sabe essa é uma via muito pouco frequentada, talvez poucos escaladores se interessaram em repeti-la. Isso era visível devido a quantidade de teias de aranha espalhadas pela via. Por esse motivo decidimos fazer um croqui detalhado para que outros escaladores se motivem a frequentar essa parede alucinante.

Bernardo Biê na terceira enfiada da via "Canino Cascudo" - foto: Felipe Dallorto.

Começamos nossa empreitada partindo de ônibus da Barra até o centro da Taquara onde pegamos uma van até a comunidade da Ilha do Sapo, que fica nos arredores da Pedra Hime. De lá demos início a caminhada que leva entorno de 40 minutos até a base da via. A trilha é bem sinalizada com trechos que passaram por recente manejo e manutenção pelos integrantes da U.E.J. (União dos Escaladores de Jacarepaguá.), mesmo assim há trechos onde a trilha parece fechar um pouco dificultando a orientação na parte final.

Felipe Dallorto na quarta enfiada da via "Canino Cascudo" - foto: Bernardo Biê.

A via começa ao lado esquerdo de uma árvore e segue muito bem protegida por grampos de meia polegada, o que torna a navegação bem óbvia. O primeiro lance para proteger o primeiro grampo exige atenção, além de ser o crux da enfiada (A0/8a), desse ponto em diante a via segue por um lindo diedro graduado em 7c. A segunda enfiada é bem curta, da parada não é possível ver o segundo grampo porque ele está escondido, o terceiro grampo fica muito a esquerda fora da linha da via, obrigando o escalador a sair da linha das agarras mais sólidas para proteger o lance. Esse ponto requer uma boa leitura e bastante atenção ao pêndulo ocasionado por uma possível queda.

Felipe Dallorto na horizontal da quarta enfiada da via "Canino Cascudo" - foto: Bernardo Biê.

Na terceira enfiada a via perde inclinação seguindo por uma incrível canaleta amarelada. A medida que o escalador ganha altura as agarras vão se tornando menos sólidas e nesse ponto já é possível usar proteções móveis caso julgue necessário. Na quarta enfiada a parede volta a ganhar inclinação, chegando a ficar negativa depois da sexta proteção, onde começa a sequência do segundo crux da via cotado em 7b. Vale ressaltar que para proteger o primeiro grampo dessa enfiada é preciso passar por um lance desconfortável.

Felipe Dallorto no final da quinta enfiada da via "Canino Cascudo" - foto: Bernardo Biê.

Apesar de não parecer, na quinta enfiada a via alivia a medida que o escalador avança em direção ao cume, sendo possível a utilização de proteções móveis em alguns trechos, principalmente antes da horizontal. As últimas enfiadas são curtas, existindo a possibilidade de emenda-las até o cume, já que lá tem uma parada dupla que é o final da via "Canino Sampaio".

Bernardo Biê e Felipe Dallorto no cume da Pedra Hime, Jacarepaguá.

Do cume a descida é feita por trilha. Caso seja necessário rapelar pela via é bom ficar atento as horizontais. O melhor horário para começar a escalar é a partir de 13h, que é quando a via começa a ficar na sombra. O tempo de duração pode variar de acordo com a velocidade da dupla de escaladores. Apesar da via ser muito bem protegida (o que facilita a orientação), vale ficar atento em caso de queda, principalmente na primeira enfiada onde existe a eminência de cair no chão antes de proteger o primeiro grampo, e na quarta enfiada onde o primeiro lance é esquisito em agarras duvidosas.

Croqui da via "Canino Cascudo" na Pedra Hime, Jacarepaguá.

O livro de cume da Pedra Hime fica escondido embaixo de uma laca invertida, perto da parada dupla que sinaliza o final da via "Canino Sampaio".




 Por Bernardo Biê